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UFRGS2018:Texto “Pai da Pátria”, de Martha Medeiros, é tema da Redação

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Prova demandou que os candidatos se posicionassem a respeito das ideias da autora sobre o Brasil

A Prova de Redação do Vestibular deste ano apresentou aos candidatos o artigo “Pai da Pátria”, da escritora gaúcha Martha Medeiros. Os vestibulandos foram provocados a escrever uma redação dissertativa expondo seu ponto de vista a respeito das ideias da autora sobre o Brasil. A prova apresentou o seguinte enunciado: “Você deve se posicionar a respeito das ideias da autora sobre o Brasil: contestá-las parcial ou integralmente; aprová-las parcial ou integralmente.”

Em Pai da Pátria, Martha Medeiros traz vários recursos que a permitem formular o seu ponto de vista de maneira muito clara. Há metáforas, ironias, argumentos e exemplos, entre outros recursos, tudo a serviço das ideias defendidas pela autora. “Quem me dera ser crédula, confiante. Do tipo que admite estarmos em meio a uma crise medonha, mas que dela brotará um Estado maior, melhor. Já fui assim otimista, mas o tempo passou e me cobrou mais lucidez e coragem para encarar a realidade. Agora não me é mais dada a alternativa de embarcar num faz de conta, acreditar em devaneios: o fato é que sempre estivemos irreversivelmente lascados...”, escreve a autora. (texto completo)

Os candidatos foram convidados a considerar que o seu texto fosse lido pela autora, contendo, assim, uma opinião bem fundamentada, com argumentos que sustentassem o ponto de vista, para que a autora entendesse claramente o posicionamento adotado.

A redação deveria conter de 30 a 50 linhas, além do título. O texto será avaliado em duas modalidades – analítica e holística – por examinadores distintos, e cada um atribuirá escores independentes entre 0 e 10. Se os escores atribuídos pelos avaliadores tiverem um distanciamento maior ou igual a 2,5 pontos, será considerado que houve discrepância na avaliação da redação. Nesse caso, a redação será reavaliada por outro examinador, que irá ponderar sobre a propriedade das duas avaliações anteriores, equilibrar e/ou atribuir novo escore, para desfazer a discrepância e registrar os novos resultados.

O Vestibular 2018 ocorre até dia 10, em 55 locais de prova, em Porto Alegre, Bento Gonçalves e Imbé/Tramandaí. Amanhã ocorrem as provas de Biologia, Química e Geografia. Informações sobre o concurso estão disponíveis no Manual do Candidato.

 

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Pai da pátria 
O Brasil, de forma simbólica, tem dois, mas, na prática, é como se fossemos filhos de um pai fantasma
12/08/2017 - 03h00min
Atualizada em 12/08/2017 - 03h01min

MARTHA MEDEIROS

O termo vem do latim pater patriae e simboliza o papel de determinada personalidade na formação da unidade nacional e de sua independência.
O nosso Pai da Pátria não é um, mas dois: Dom Pedro I e José Bonifácio. Cada nação tem o seu, que serve de modelo de heroísmo e dignidade.

O Pai da Pátria está acima de nós, como numa família tradicional. Não em valor, que valorosos somos todos, mas em representatividade. O Pai da Pátria poderia, inclusive, ser o epíteto de todo chefe do executivo, não fosse, especialmente no nosso caso, uma piada. Há pesquisas sérias sobre a importância de se ter um pai reconhecido em certidão. O Brasil, de forma simbólica, tem os dois já citados, mas, na prática, é como se fossemos filhos de um pai fantasma, que não nos deu o senso de inclusão familiar, de responsabilidade e de orgulho, deixando-nos à deriva.

Quem me dera ser crédula, confiante. Do tipo que admite estarmos em meio a uma crise medonha, mas que dela brotará um Estado maior, melhor. Já fui assim otimista, mas o tempo passou e me cobrou alguma lucidez e coragem para encarar a realidade. Agora não me é mais dada a alternativa de embarcar num faz de conta, acreditar em devaneios: o fato é que sempre estivemos irreversivelmente lascados, pois desde que essa história começou (1500), foi um tropeço atrás de outro, um país descoberto por engano, por causa de uns ventos inesperados que conduziram as caravelas para outro destino que não a Índia e foram parar aqui sem querer, e quem dá importância ao que foi sem querer? Descuidos não são levados a sério, nunca fomos e jamais seremos a primeira opção nem pra nós mesmos. O Brasil é um acidente de percurso do qual se tenta tirar alguma vantagem para que o engano de rota não resulte em total perda de tempo.

Se você discorda, se ainda acredita que um dia seremos um país íntegro, digno, consistente, me declaro invejosa da sua fé. Sou uma ratazana descrente que não abandona o navio porque tem parentes no convés, apenas por isso.

Sorte a minha, e provavelmente a sua, de que colecionamos algumas vitórias particulares: amigos fiéis, o gosto pela música, amar e ser amado, gozar de boa saúde, poder ir ao cinema de vez em quando, não ter vergonha do passado e acreditar-se merecedor de um banho de sol, de um banho de mar, de um banho de chuva, essas trivialidades naturais que mantém o corpo e a alma azeitados. A vida vale a pena em sua simplicidade, aquela que ainda comove, pois rara.

Mas não nos gabemos, pois ainda que nossa família nuclear e nossa trajetória pessoal não nos envergonhem, somos todos habitantes de uma pátria órfã.

https://gauchazh.clicrbs.com.br/colunistas/martha-medeiros/noticia/2017/08/pai-da-patria-9867095.html
 

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