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EDWARD JENNER: O INVENTOR DA VACINAÇÃO

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EDWARD JENNER: O INVENTOR DA VACINAÇÃO
Ele descobriu um meio de evitar as doenças

Em julho de 1798 a Europa estava num torvelinho. Napoleão Bonaparte conquistava as suas primeiras grandes vitorias na Itália.

A revolução estava em toda a parte, e os antigos costumes se subvertiam.

Como se isso não fosse pouco, um médico inglês chamado Edward Jenner fazia algo que parecia uma coisa monstruosa. Estava tentando deliberadamente provocar a horrível doença que era a varíola, num menino de oito anos. Tirando a clara secreção das vesículas de uma vítima de varíola, ele arranhou a pele da criança, nela introduzindo o fluido. Com isso era certo que o menino contrairia a varíola dentro em pouco.

Jenner esperava para ver o que aconteceria. Com grande alívio, chegou à conclusão de que a sua expectativa estava correta. O menino não pegou varíola. Não demonstrou sinal algum da doença.

Jenner não era um monstro e sim um benfeitor da humanidade. Provara que sabia como evitar a varíola, e assim fazendo, influenciou mais o destino da humanidade do que Napoleão com todas as suas vitórias.

Talvez Napoleão tenha compreendido isso. Em 1802, numerosos civis ingleses foram feitos prisioneiros, depois que a guerra entre a Inglaterra e a França rebentou, após um pequeno período de paz. Foi solicitado a Napoleão que os soltasse e ele estava a pique de se recusar quando soube que Edward Jenner era um dos postulantes. O futuro conquistador da França não teve coragem de se negar a um pedido do conquistador de varíola e libertou os ingleses.

Edward Jenner nasceu em Gloucerstershire, na Inglaterra, no dia 17 de maio de 1749. Na idade de 20 anos começou a estudar medicina, mas, como aconteceu com inúmeros pioneiros da ciência, também se dedicou a muitas outras atividades. Estudou geologia, escreveu poesias, tocou instrumentos musicais, interessou-se por pássaros e construiu um balão. Felizmente para o mundo, no entanto, ele recusou uma oportunidade verdadeira- mente maravilhosa. Jenner poderia ter ido com o capitão Cook na segunda viagem que esse explorador fez aos Mares do Sul, como naturalista da expedição. Ele preferiu permanecer em Londres e fazer clínica.

Um dos grandes problemas da medicina desses dias era a varíola, uma das doenças mais temidas que afligiam a humanidade. Uma vez por outra, irrompia uma epidemia de varíola. Devido aos mínimos conhecimentos de higiene, a doença se espalhava como um incêndio, através das cidades sujas e apinhadas.

Cerca de dez por cento das pessoas que contraíam a doença morriam e, além disso, as que sobreviviam ficavam "marcadas de bexigas". Isso é, cada pequena pústula causada pela moléstia (e nos casos graves todos o corpo ficava coberto por elas) deixava uma cicatriz arredondada e funda depois de curada a doença. Muitas pessoas temiam mais o horrível desfiguramento provocado pela doença do que as possibilidades de morrerem.

A varíola não respeitava ninguém. Em 1751 George Washington foi atacado por ela. Curou-se, mas sua face ficou coberta de cicatrizes. Em 1774 o rei Luís XV, da França, foi vítima da varíola e morreu.

De fato, um rosto sem cicatrizes constituía quase uma raridade, e o ter a pele lisa era o suficiente para tornar uma mulher bela em comparação com as outras menos afortunadas.

Na verdade, uma "dose" de varíola era tudo o que uma pessoa provavelmente teria. Quem nunca tivesse tido a doença pegava-a com a máxima facilidade, se exposto a um contato com uma pessoa doente. Uma vez contraída a moléstia e se não morresse, nunca mais a teria de novo, por mais que se expusesse. A pessoa tornava-se "imune".

EDWARD JENNER

Dr. Edward Jenner (1749-1823), dando a primeira vacinação contra varíola a James Phipps, um menino de oito anos, em 14 de maio de 1796, retratado em óleo por Ernest Board. (Getty Images)

Em 1718 esse fato deu origem ao que, na época, se considerava uma história absurda. Uma senhora da nobreza inglesa, Lady Mary Wortley Montage, regressou de uma viagem à Turquia e relatou o fato de que os turcos se inoculavam, deliberadamente, com o líquido proveniente dais pústulas de formas leves da moléstia. A pessoa inoculada adquiria uma forma muito leve da doença e tornava-se imune à custa de um pequeno sacrifício. Lady Mary depositou bastante fé nessa ideia a ponto de inocular seus próprios filhos.

Lady Mary, embora uma senhora brilhante, era, no entanto, uma espécie de borboleta social. Era difícil levá-la a sério, e os médicos não acreditaram nela. Além do mais, era difícil se convencer os ingleses daquela época de que os turcos pudessem fazer qualquer coisa digna de ser imitada.

Depois que Jenner começou a clinicar, passou a interessar-se pela varíola. Talvez ele tenha ouvido a história de Lady Mary, talvez não. O que ele sabia, com certeza, é que existia uma velha "superstição", muito espalhada em sua terra natal, Gloucestershire, de que havia uma "inimizade" entre a vacina (varíola vacum - uma doença que afeta o gado bovino mas que pode ser adquirida pelos seres humanos) e a varíola. Quem pegasse aquela doença, diziam os fazendeiros de Gloucestershire com um ar sentencioso, jamais contraía a outra.

Seria isso realmente uma superstição? imaginava Jenner. Afinal de contas, era tradicional serem as moças ordenhadoras muito bonitas. Na França, eram populares as peças de teatro em que se representavam moças ordenhadoras e pastoras de grande beleza. Seria isso porque essas, raramente atingidas pela varíola tinham uma bonita pele? Seria que, devido seu contato com as vacas, elas pegavam a vacina?

Jenner começou a observar cuidadosamente os animais domésticos.

Havia uma doença de cavalos chamada "graxa" ou "esparavão" em que aparecem bolhas e inchação numa parte da pata. As pessoas que trabalhavam nos estábulos e cocheiras tratavam essas bolhas e iam, depois, ordenhar as vacas. Pouco depois, as vacas adquiriam a vacina. Mais tarde aquelas pessoas também podiam apresentar algumas bolhas que apareciam nas mãos - que entravam em contato com as vacas - e nunca no rosto, onde o desfiguramento era mais temido. Além do mais, as pessoas que lidavam com animais domésticos por força e profissão, pareciam estar livres da varíola.

Jenner chegou à conclusão de que a "graxa" e a vacina "eram uma forma de varíola". Raciocinou que a passagem através dos animais fazia enfraquecer grandemente a doença. Os fazendeiros estavam certos. Algumas vesículas nas mãos, e estavam afastadas as preocupações às possibilidades de morte ou desfiguramento pela varíola.

A 14 de maio de 1796 Jenner adquirira a confiança necessária em sua teoria para assumir uma tremenda responsabilidade. Encontrou uma ordenhadora que tinha vacina. Jenner retirou um pouco de líquido de uma vesícula da mão da moça e injetou num menino. Dois meses depois ele inoculou novamente o menino, mas dessa vez não com vacina e sim com a própria varíola! O menino não ficou doente. Estava imunizado!

Naturalmente, Jenner quis tentar de novo para ter absoluta certeza. Levou. dois anos para encontrar alguém com varíola bovina em atividade. Durante esse tempo quase enlouqueceu de impaciência, mas esperou, não se aventurando a publicar os seus resultados prematuramente. Em 1798 ele descobriu por fim um outro caso de vacina, repetiu a experiência com outro paciente e, novamente, o resultado foi perfeito. Jenner podia, agora, publicar os seus resultados e dizer ao mundo que havia n'a maneira de derrotar a varíola.

A varíola bovina, ou vacina, chama-se "vaccina" em latim, e Jenner criou a palavra "vacinação" para descrever o uso da inoculação de vacina para criar imunidade contra a varíola.

O trabalho de Jenner foi tão cuidadoso que só um número muito reduzido de médicos conservadores levantou objeções. Os malefícios foram provocados por médicos mais afoitos, que começaram a inocular descuidadamente e a disseminar graves infecções. A vacinação se espalhou por todas as partes da Europa.

A família real inglesa foi vacinada. Fundou-se, em 1808, a Royal Jennerian Society (encabeçada por Jenner) para encorajar a vacinação, e em 18 meses o número de mortes por varíola se tinha reduzido de dois terços.

Na Alemanha, onde a data do nascimento de Jenner era celebrada com um feriado, foi tornada compulsória a vacinação no estado da Baviera, em 1807. Outras nações seguiram-na e até a retrógrada Rússia adotou a prática. A primeira criança que se vacinou nesse país recebeu o nome de Vaccinov e foi educada às expensas da nação.

A Inglaterra foi mais lenta em honrar Jenner. Em 1813, por exemplo, ele foi proposto como candidato ao College of Physicians, de Londres. O Colégio, no entanto, quis que ele se submetesse a uma prova sobre os "clássicos", isto é, sobre as teorias de Hipócrates e de Galeno. Jenner recusou-se. Ele achava que a sua vitória sobre a varíola constituía credencial mais do que suficiente. Os cavalheiros do Colégio não concordaram com Jenner e ele não foi eleito.

Jenner morreu a 24 de janeiro de 1813, sem ter sido eleito membro do College of Physicians, mas coberto de toda a glória que um médico pode almejar.

A varíola é, atualmente uma doença rara graças à vacinação. Na maioria dos países as crianças são vacinadas na sua mais tenra idade. Qualquer caso de varíola surja em uma cidade (normalmente trazido por navio trazido de alguma região atrasada) provoca de imediato uma onda de vacinação a todos os moradores da cidade, novamente, de forma que uma epidemia não tem possibilidades de se manifestar.

Mas isso é apenas uma pequena parte da história. Jenner havia descoberto uma forma de evitar a moléstia mais do que de curá-la - o primeiro homem a fazê-lo. Ele o conseguiu utilizando-se da própria maquinaria do corpo para provocar a imunidade. Desta forma ele fundou a ciência da imunologia.

Desde então, os médicos vêm procurando novas maneiras de encorajar o corpo ao desenvolvimento de imunidade a perigosas moléstias, fazendo com que ele produza defesas químicas ("anticorpos") contra leves manifestações da doença. Os fluídos causadores da doença leve são ainda chamados "vacinas", ainda que nada tenham a ver com vacas.

Uno exemplo é a vacina Salk, produzida por Jonas Salk. O vírus causador da paralisia infantil é morto por agentes químicos, de modo que não mais possa provocar a moléstia. Ele retém ainda o suficiente de suas propriedades originais, no entanto, para fazer com que o corpo produza anticorpos que serão eficazes contra o vírus vivo. A injeção da vacina Salk aumenta a imunidade a paralisia infantil, sem que os pacientes sejam postos em contato com apropria doença.

Vacinação ajuda também a combater doenças tais como a febre amarela, a febre tifoide, a gripe, a tuberculose e a febre maculosa das Montanhas Rochosas.

A importância do trabalho de Jenner não é apenas que tenha ele acabado com a varíola. Foi indicado um caminho para exterminar as moléstias mais funestas ao homem - caminho que pode, com o tempo, ser usado como defesa contra todas as moléstias infecciosas.

Texto escrito por ISAAC ASIMOV

Fonte:
Asimov, I. (1959). Conquistas da Ciência. Rio de Janeiro: Distribuidora Record. 159p.
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